O Maravilhoso mundo do Vô Tancredo ... Meu bisavô era uma figura esguia a e alegre num mundo de adultos sombrios e sérios. Ele era uma pessoa que sorria e sabia tirar da vida um doce de um onde tudo parecia tão sem meiguice, sem graça. Ele tinha uma oficina , como a do professor pardal, um viveiro de pássaros gigante, criação de porcos, criação de peixes... Muitas plantas,árvores frutíferas: Jaca, manga , Goiaba, muitas Jaboticabas... E o mais surpreendente de tudo uma criação de codornas. Meu Bisavô sempre me recebia com um sorriso ,de braços abertos, mão estendida para me mostrar as codorninhas que sempre botavam um ovinho do meu tamanho.Uma vez lá onde elas ficavam , ele pegava o ovinho e dizia:- Vamos fazer esse ovinho? Colocava o ovo numa leiteira com água, depois ligava a trempe do fogão a gás, sob os protestos da minha bisavó, e a gente ficava esperando ansiosamente o ovinho ficar pronto. Depois de pronto , ele descascava o ovinho, na maior paciência, colocava numa cuiazinha, punha sal e esperava que eu saboreasse a iguaria,e aí ele fazia a carinha mais marota do mundo. Depois, me levava para ver tudo, no fim do tour ,os passarinhos no viveiro, a imitação do canto deles , a gente se divertia até que a minha bisavó o chamasse para fazer um monte de coisas para ela. E eu ficava ali, solta, sem saber o que fazer ,um pouco perdida naquele mundo que só fazia sentido com o meu bisavô. Ele morava numa casa imensa,que parecia um palácio. Um casa que tinha aposentos proibidos,e era parecida com uma fazenda sem cavalos e nem bois. Era habitada por primos que não iam com a minha cara, frequentada por adultos altos demais, sérios demais,ocupados demais com seus jornais para dar atenção a uma menina ruiva, feia, xereta e falante demais. A magia e o fascínio de todo aquele mundo era o dono dele, que sabia receber uma menina solitária e cheia de imaginação. Ele sabia fazer parte do meu mundo de criança, sabia fazer do cozimento de um ovo de codorna um grande acontecimento, algo super esperado e especial.Confesso , que ele era exceção, no meio de tanta gente que me punha de lado, era a pessoa , que me levava para aventuras, me mostrava os porcos ,os peixes os pássaros , as frutas , ele era quem sempre dizia sim para mim , quando eu só recebia reprimendas e nãos. Mais de 40 anos e eu ainda lembro da minha alegria de ver o meu bisavô , do carinho que eu recebia dele, da festa que ele fazia quando eu chegava naquele mundo maravilhoso. O maravilhoso mundo do vô Tancredo, que no fim de tarde, quando estava quase na hora de ir embora ,sempre tinha um cheirinho de café, um paozim de queijo, um biscoito frito, misturado com cheiro de fumaça do fogão á lenha. O homem é eterno , quando seu trabalho permanece; meu bisavô fez um ótimo trabalho e esse trabalho permanece em mim. Hoje, depois de tanto tempo, vivo na minha memória a lembrança de um tempo mágico cheio de fantasias e faz-de-conta, que eu não posso mostrar em imagens , só posso mostrar com palavras. Um mundo em que o meu bisavô reinava soberano , em que ele era uma figura alegre, num lugar tão adulto, ele era criança, sorria, fazia macaquices , molecagens de menino peralta e ria das pessoas que ralhavam com ele . Ele não era poeta, não era erudito, não era culto, era sábio e criativo , era comprometido com a felicidade, com a vida, com valores que tocam as pessoas , que marcam profundamente no coração.Ele sabia viver de verdade, sabia fazer a vida valer,fazia da companhia uma experiência, com isso está eternizado, vivo em seu maravilhoso mundo, dentro de mim. . A vida só faz sentido, se a gente sentir a vida ... Viva a vida !!
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